Comissão criará grupo visando modernizar atuação da Anvisa
Ouvir texto
Parar
A Comissão de Assuntos Sociais (CAS), em parceria com a Consultoria
Legislativa, criará um grupo de trabalho com o objetivo de apresentar
uma proposta de modernização da legislação que rege a atuação da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).O diretor apresentou aos senadores um conjunto de medidas que
dependem de aprovação do Congresso Nacional e que, no seu entender,
possibilitariam um sistema com menos burocracia e mais incentivo à
inovação. Uma das medidas vista como prioritária é que no caso do registro de
medicamentos inovadores, que não seja mais cobrada a obrigação de que
eles sejam registrados antes no país de origem.- Qual é o problema que isso traz? Se uma empresa norte-americana
desenvolver um novo medicamento para a leishmaniose, que não tem nos
EUA, só tem no Brasil, ela vai pensar se vale a pena pedir o registro na
Anvisa tendo primeiro que pedir o registro na agência deles e gastar U$
1 milhão, que é o que se cobra por lá. Resultado: não haverá
medicamento nenhum - explicou o diretor, que também é
medico-sanitarista.Registro temporário
Outra medida que, no entender de Jarbas Barbosa, pode ter um impacto
profundo, seria a possibilidade de o órgão conceder um registro especial
temporário de medicamentos e produtos para a saúde. Este registro teria a validade de um ano, e na prática liberaria a
utilização no Brasil de medicamentos já testados e autorizados em outros
países, durante a fase final da análise por parte da Anvisa. O senador Waldemir Moka (PMDB-MS) reforçou que se o registro
temporário fosse permitido no Brasil, além de auxiliar no tratamento de
milhares de brasileiros, possibilitaria uma economia de recursos
públicos.- São remédios sabidamente testados e dos quais já se conhece o
funcionamento. O que ocorre hoje é que as famílias recorrem à Justiça e o
Ministério da Saúde fica obrigado a adquirir estes medicamentos
importados por um preço muito alto - disse o senador.Remédios para emagrecer
Jarbas Barbosa deixou clara ainda sua discordância, já manifestada
quando da discussão pelo Congresso Nacional, da liberação de
medicamentos por meio de lei. Ele referia-se à Lei 13.454/2017, sancionada recentemente, que liberou a produção, consumo e venda de remédios para emagrecer. O médico lembrou que todo o sistema de controle sanitário depende do processo de registro por parte da Anvisa.- Como é que nós podemos controlar um produto que não possui
registro, e eu não consigo diferenciar num ponto de venda o que é o
produto, ou o que é a falsificação deste mesmo produto? - questionou.Ele reforçou que no caso dos medicamentos registrados na agência, há
todo um sistema de monitoramento que nasce já na produção de cada lote. O
diretor reforçou que em relação aos anorexígenos liberados, a
sibutramina possui registro na Anvisa, porém o mesmo não se dá em
relação aos demais, que no entender dele estão num "limbo regulatório".- Há empresas que estão pedindo a importação destes medicamentos sem
registro. São remédios da década de 1970 do século passado, sem estudos
sobre a segurança ou eficácia deles, e sem perspectiva de que aconteçam -
disse.Ele ainda informou que a Anvisa não pode por lei autorizar a
importação de medicamentos sem registro. Por isso a tendência é que a
agência negue os pedidos, cabendo ao Ministério Público posteriormente
questionar esta decisão. Jarbas Barbosa disse ainda que, além dos compostos liberados pela Lei
13.454/2017, existem alternativas "mais modernas" já autorizadas pelo
órgão.Â
Críticas ao CFM
O diretor da Anvisa também criticou o Conselho Federal de Medicina
(CFM) pelo parecer favorável que deu à liberação dos anorexígenos, antes
da sanção por parte do presidente em exercício, Rodrigo Maia, em junho,
quando exercia o cargo durante viagem internacional de Michel Temer.- Temos uma ótima relação com o CFM, mas neste caso ele invadiu um
território que não é dele. O CFM tem que se preocupar com a questão
ética, zelar pra que nenhum médico receba incentivos indevidos pra
prescrever medicamentos, realizar cirurgias ou colocar próteses -
criticou.Jarbas Barbosa disse ainda que existem centenas de estudos
internacionais apontando que os anorexígenos liberados provocam
dependência e contribuem para o desenvolvimento de problemas cardíacos e
neurológicos. Além disso, seus efeitos na redução do peso não se
sustentam a médio ou longo prazo.Fonte: Agência Senado